Pediram-me para falar sobre Neptuna…
Falar sobre Neptuna é lembrar a 1ª actuação, memorável pela forma tão pouco ortodoxa como correu que nem teve final. É falar sobre os milhares de kms percorridos pela Europa, sem sequer banho tomarmos mas sempre de instrumentos em punho e sorriso nos lábios. Falar sobre Neptuna é lembrar o sorriso daquela senhora à varanda a quem dedicamos uma serenata, ou da rapariga bonita para quem tocamos à porta da loja de roupa. Falar sobre Neptuna é lembrar a bandeira da Figueira a abrir caminho em arruadas pelas cidades de todo o país e Europa. Falar sobre Neptuna é lembrar a lágrima do emigrante que entre dois acordes de uma canção se sentiu em casa.
Falar sobre Neptuna é lembrar o bêbado e o louco da aldeia que à nossa frente dançam como se ninguém estivesse a ver. Neptuna é o copinho de tinto bebido encostado ao balcão improvisado do arraial da aldeia, onde por alguns momentos o ti Jaquim e o ti Manel são os nossos melhores amigos.
Falar sobre Neptuna é lembrar os amigos que fazemos por esse Portugal fora, sempre à nossa espera de sorriso nos lábios e duas minis na mão. Falar sobre Neptuna é lembrar Évora, Viseu, Coimbra, Lisboa, Porto, Castelo Branco, Terrugem, Viana do Castelo, Braga, Bragança, Tomar, Açores, Madeira… É lembrar Amesterdão, Paris, Hannover, Bruxelas, Lodz, Budapeste, Luxemburgo…
Falar sobre Neptuna é sem sombra para dúvidas falar sobre Figueira, sobre a animação que as tunas trazem à cidade por ocasião do festival e a forma como enchemos o peito de força e orgulho sempre que cantamos a “Figueira” da Maria Clara ou a Marcha do Vapor.
Falar sobre Neptuna é dizer de peito aberto, “Meus amigos, eu estou pronto para mais dez anos, quem me acompanha??”
Falar sobre dez anos de Neptuna não é empresa fácil, pois quando se escreve a 3800km de distância, os dedos tendem mais para o saudosismo do que para a narrativa cronológica, toldando completamente o raciocínio.
No que me diz respeito, dedico este 10º aniversário do FITAFF aos teimosos que, como eu, trazem sempre a caravela a bom porto.
Um grande bem-haja e “Viv’ás tunas”
Bucareste, 24 de Maio de 2007
Bruno Amaro - ex. Presidente da Direcção da INA