sexta-feira, 1 de junho de 2007

Testemunho

,
O que são 12 anos de Neptuna para mim…?
É mais uma aventura no meio de outras. Vejo irmãos, vejo um projecto comum, vejo expectativas utópicas (ou não), vejo amizades, vejo famílias, vejo vida.

Contando uma história, conto-vos a minha história.

A minha aventura começa um ano antes da Neptuna aparecer, quando acabadinho de fazer 17 anitos, vindo de Coimbra, fui parar à Figueira da Foz para frequentar o ano 0 na U.I. Por força da circunstância éramos um grupo bastante unido dado termos um estatuto diferente dos restantes alunos na Universidade, porque em comum com os mesmos, só partilhavamos as instalações. Uns amigalhaços. O ano acabou e alguns de nós inscrevemo-nos no 1º ano da Universidade.
Alguns meses passaram e certo dia o Bruno Amaro, que tinha frequentado comigo o ano 0, cheio de convicção e após várias tentativas, aborda-me no intuito de me convencer a ir assistir a um ensaio de uma Tuna nova que se estava a formar no seio da U.I. Um dos argumentos utilizados pelo Bruno era o tipo de projecto, que se iria diferenciar da outra Tuna existente – a Bruna – porque iria primar pela qualidade musical e não apenas como pretexto para beber copos.
Para mim não foi grande argumento porque, gostava de copos, para além de não gostar de tunas, e na verdade, a única música que existia em mim na altura, era aquela que ouvia na rádio e nos CD’s que comprava, e não fazia a mínima ideia do que era um Dó, mas como tinha em grande consideração a nossa amizade lá resolvi aceder ao seu pedido e fiz-lhe a vontade.
Nesse dia, lá fui atrás dele até a uma garagem por baixo de um pequeno prédio na rua 10 de Agosto e encontro um pequeno grupo de indivíduos, todos mais velhos que eu, a arranharem umas notas nuns instrumentos musicais. Algumas caras eram-me familiares, tanto dos corredores da U.I. como da noite figueirense e de certa forma senti-me confortável em estar no meio deles. Apresentei-me e eles deram-me as boas vindas à Imperial Neptuna Académica, Tuna da Universidade Internacional da Figueira da Foz.
Os dias foram passando e como não havia muito mais para fazer a minha presença nos ensaios passou a ser assídua e, por inerência, a amizade por aquele grupo continuou a crescer.
Depressa chegou a 1ª actuação e desde logo notei em mim a necessidade da música e do grupo na minha vida. Gostava de cantar e depressa me apressei em decorar as letras das músicas da altura. Recordo a “Animada Figueira”, “Recordações de Estudante”, “O Trovador” entre outras.

Mas nem tudo foram rosas. Viveram-se alturas de grande tensão, sobretudo para nós, caloiros da INA. De certa forma sentíamo-nos marginalizados na academia porque fazíamos parte de um grupo dissidente da outra tuna existente – a Bruna – na altura, na “moda” e bastante influente no contexto académico da U.I. … mas não nos importávamos porque acreditávamos nos mais velhos e nas suas ideias e porque eles nos davam apoio quando nos sentíamos pressionados pela academia. O projecto era novo, uns fazendo de tunos e outros de caloiros, mas estávamos a criar algo que era nosso e feito à nossa maneira.

Os tempos foram passando até encontrar-mos uma nova casa para ensaiar e conviver. A garagem do Pedro Jorge tornara-se pequena para a malta ensaiar, além do incómodo que provocava na vizinhança.
A direcção do G.I.S. abriu-nos as portas e passamos utilizavar o seu salão de festas para ensaiarmos todas as 2ª, 4ª e 6ª feiras. Alguns dos mais velhos ainda se lembram da “Estripadora”, nossa 1ª Tia, onde nos juntávamos para comer, e de vez em quando, nos fiar nas alturas de mais aperto. Um beijinho para ela.
Relembro o Joca com a sua Tuba a ensaiar o pessoal da altura, o Cordeiro na viola e até cantava fixe, o Mesquita naquele Parrot vermelho e também cantava bem, género Joe Cocker, o Vasquinho no bandolim cantava que se fartava, o Pedro Jorge agarrado ao cavaco (no de 8 é que era, não é Pêjó?), o André Figueiredo na pandeireta, Carrasqueira na viola, outro que cantava que se farta, o Medi agarrado ao ferro, o Nabais agarrado ao Pigini (traz-me que eu não o estrago) e a servir de bode aos pregos da tuna, Bruno a decorar acordes (forever Man), Saraiva a tocar baixo com 3 cordas, Paul Michael de vez em quando no cavaco e também era boca de incêndio, o Gabi agarrado à pandeireta, o Cavaleiro na flauta (agora objecto fálico) e o Lellito a dar no cavaco também tinham um Power de voz, “Eurico a Adamastor!! Eurico a Adamastor!!”, o Mané todo aprumadinho partia o cavaco e rebentava na voz, o Grilo dava-lhe na viola, o Frick partia no bandolim e dava na voz baixo, André Bufa andava lá e também dava na flauta, o Arsénio escavacava violas e curtia bue Blues e outros tantos.
Entretanto acaba o 1º ano e chega a 2ª geração de caloiros com o TCB com o conservatório de Clarinete e a cantar bue, o Cid que em tempos queria tocar Acordeão mas depois agarrou-se à viola mais a sua convicção a cantar, o Rancho com o seu acordeão mas gostava mais de tocar cavaquinho, o Venceslau também cantava que se fartava, o Guitas a tocar viola era mesmo Guitas além de ser um dos bardos da tuna cantava que se fartava, etc.
Coincide mais tarde com a chegada do Carrasqueira à frente do Conselho Musical e a ensaiar a Tuna. Fez a “Imperial” que se tornaria o hino da Neptuna e ainda hoje tocada com toda a pujança na sua 19ª versão. A colheita deste ano foi um bom reforço musical para a Tuna.

Desde muito cedo que o Carrasqueira me começou a mandar para a ala direita destinada às segundas vozes (sim porque na altura cantar a duas vozes era luxo) talvez porque me aguentava melhor nas notas altas e porque de certa forma a minha voz, bruta e sem qualquer educação, se destacava ligeiramente das restantes. Mais ou menos o… Tinha que dar.
Motivado pelo Gabi e pelo Frick e porque também não tocava nenhum instrumento comecei a explorar essa faceta de cantor, usando os CD’s existentes da Infantuna Cidade de Viseu e da Magna Tuna Cartola de Aveiro para me “picar” com os seus solistas (Ricardo Mocas e João Paulo) que na altura encantavam esses palcos de norte a sul do país. Talvez esse tenha sido o motivo pelo qual tenha surgido a minha alcunha de “Tenor” e desde então nunca mais me livrei da mesma.
Nunca mais me esqueço da minha 1ª vez que cantei como solista. Aquando da deslocação da Neptuna com a Cartola ao Casino do Estoril, já cá fora, passava a Rita Guerra (cantora) no passeio e logo a circundámos para lhe fazer uma serenata e foi quando, acho que foi o Gabi, me empurrou e tive que cantar a “Figueira” da Maria Clara, que na altura era cantada pelo TCB. A partir dessa altura a “Figueira” passou a ser cantada por mim. Como o TCB cantava outras não se importou. Sim… quando o TCB entrou na Tuna com o conservatório impressionou-me a mim e a todos dado que a grande maioria eram curiosos ou não tanto e conhecimento de escola foi bem-vindo e tornou-se mais-valia.

Quando mudámos para o sótão da sede Ginásio Figueirense foi o culminar. Tínhamos uma sala de ensaios só para nós. A nossa sede. Velhos tempos quando tomávamos café no bar do Ginásio com os sócios velhotes. Subir aquelas escadas. Bem subir as escadas ainda as subo muitas vezes, pelo menos todas as 4ª feiras.
Entretanto surge a nossa grande 1ª aventura, o I FITAFF, o derradeiro teste às nossas capacidades organizativas. Embora fossemos inexperientes tínhamos uma boa equipa na Direcção e o festival realizou-se sem problemas de maior. Na altura o presidente foi o Gabi. Nunca mais me esqueço de ir a um gabinete de design gráfico por cima do Café na Av. Afonso Henriques em Coimbra com o Gabi por causa do cartaz do festival. Lembro-me que queríamos a todo custo que o cartaz simbolizasse um contexto de qualidade, daí a escolha de um layout clássico, com pautas musicais e o violino. eheh!! Velhos tempos.
Os anos foram passando e a minha paixão pela tuna foi crescendo exponencialmente, isto porque, se calhar, devido à minha maneira de ser, ou é ou não é.
Como era imperativo a evolução musical, a concorrência no recrutamento era agressiva aliada ao facto da academia ser pequena, pelo que, conseguirmos caloiros suficientes era muito difícil.
Sentíamos querer evoluir, crescer, competir mas era impossível fazer omeletas sem ovos. Fazendo da música valor fundamental, logo arranjámos amigos que partilhavam da mesma paixão.
O Raúl da Universidade Católica foi o pioneiro na concretização de uma ideia genial. A união do academismo figueirense com a música. Estudantes e ex-estudantes da Figueira da Foz.
Lembro-me da formalização dessa ideia com a assinatura da escritura em Montemor-o-Velho. A partir daí foi sempre a abrir. Vieram as viagens pela Europa com experiências inesquecíveis.
Nunca mais me esqueço quando, vindos do Norte no Mercedes da Kitty recebemos uma chamada a informar que tínhamos sido qualificados num concurso nacional para sermos uma das 4 Tunas a representar Portugal em Hannover 2000.
A estreia dos trajes novos pelas ruas no São João e depois a ida para Hannover foi mais um boom na evolução na Neptuna.

Lembrei-me agora de uma viagem que tive com o TCB, num Corolla voador, numa daquelas sagas em busca de apoio para o FITAFF e de um pit-stop pela AlcantraMar.
O FITAFF foi sempre um sucesso porque sempre gostámos de bem receber. Por acaso, sinto que sempre organizámos o FITAFF de maneira como gostávamos que nos recebecem. Orgulho-me muito dos cartazes e para não fugir à regra, o do X FITAFF vai ser dos melhores de sempre.
Agora para o presente e o futuro.

A minha maneira de ser manda-me dizer o que sinto. Sinto que a Neptuna está dentro de mim e deixa-me feliz. Ora, se quem gosta de mim gosta de me ver feliz então esses que gostam de mim ficam felizes por eu ser feliz em pertencer à Neptuna. É uma compatibilidade pura porque o amor é puro. Quem não pensa assim relativamente a todas as coisas da vida deve parar e pensar no que é que anda a cá a fazer.
Todos somos engenheiros, advogados, empresários, gestores, trabalhadores e estudantes motivados, ou seja, pessoas trabalhadoras mas deixem-me que vos diga, a vida tem me mostrado ao longo dos tempos e agora recentemente que a devemos aproveitar ao máximo e que não nos podemos permitir a acontecer um dia arrepender-mo-nos de algo que não vivemos ou gozámos.
Apesar da Neptuna ser o que é hoje continuo a ver um potencial neste grupo amplamente subestimado. Somos todos capazes como já o provámos individualmente.
A Neptuna sou eu, somos nós, é um bocadinho minha na minha quota parte, e se reparmos, em teoria, quanto maior for a Neptuna maior seremos nós, porque mais são e importantes serão as relações inter-pessoais que se proporcionam, os conhecimentos inerentes.
Sei que a crise académica conjugada com toda a conjuntura económica, tanto local como nacional, não é benéfica para os nossos propósitos, pelo que imagino tempos difíceis.
Aos que continuam a acreditar neste projecto afirmo que podem contar comigo com toda a minha convicção e maneira de ser, porque como disse em cima, uma vez Neptuno, Neptuno até morrer. Àqueles que se afastaram continuo a dizer que é possível fazermos aquilo que gostamos e que todos podemos ainda usufruir daquilo que criámos.

Costumo dizer aos caloiros quando chegam à Neptuna, que o conceito de Tuna está em constante mutação e redefinição dado a música não ser algo de sedentário ou estático. O que se puder tocar nas ruas e nos fizer felizes também podemos tocar em palco. Lembrem-se, o que interessa é ser feliz e ajudar os outros a serem felizes. Nós utilizamos a música, e não só, para alcançar isso. Ainda um dia podíamos correr o mundo “à pala”.
Sempre me ensinaram que, regra geral, basta querer. Quando cheguei à Imperial Neptuna Académica não gostava de tunas e não sabia o que era um Dó. Ao longo destes 12 anos aprendi a cantar e por vezes cheguei a ser solista da Tuna. Na base da insistência (tanto bate até que fura) aprendi a tocar sozinho acordeão. Fiz parte da organização de todos os FITAFF (com a disponibilidade possível) e dei total apoio às Direcções que comandaram o barco durante estes anos.

Neste momento estou radicado em Coimbra onde tenho os meus negócios, vivo feliz com a Susana (que me acompanhou a par e passo ao longo destes 12 anos e que lhe dedico um beijo especial pela sua tolerância e compreensão) e continuo a gozar o nascimento do Simão, o meu 1º filho. Às 2ª feiras (nem sempre) e às 4ª feiras (sempre) encontram-me na sede descontraído e relaxado a curtir.
Em tom de conclusão, porque também já chega e nunca iria conseguir contar tudo, só posso dizer que consigo imaginar um Tunão, cheio de velhos e novos, doutores ou engenheiros, pais, filhos e avós, elementos de outras instituições e colectividades juntos, a honrar e enaltecer o academismo figueirense por esse mundo fora.

Pessoal… Encontramo-nos 2 ª e 4ª feira na Sede.
Tem que dar!

Nuno Inácio, Tenor - Caloiro fundador da INA, 1995-2007.