quinta-feira, 19 de julho de 2007

História dos nossos instrumentos

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O Cavaquinho

O cavaquinho é um cordofone popular de pequenas dimensões, do tipo da viola de tampos chatos e da família das guitarras europeias. Possuindo uma caixa de duplo bojo e pequeno enfranque, as suas quatro cordas de tripa ou metálicas (em aço) são tradicionalmente presas a cravelhas de madeira dorsais e ao cavalete colado a meio do bojo inferior do tampo, por um sistema que também se usa na viola. Além deste nome encontramos ainda, para o mesmo instrumento ou outros com ele relacionados, as designações de machimbo, machim, machete, manchete ou marchete, braguinha ou braguinho, cavaco.

Dentro da categoria geral com aquelas características, existem actualmente em Portugal continental dois tipos de cavaquinhos, que correspondem a outras tantas áreas: o tipo minhoto e o tipo de Lisboa.

Características

O cavaquinho minhoto tem a escala rasa com o tampo, tal como a viola, e doze trastos; a boca da caixa é usualmente de «raia», por vezes com recortes para baixo, embora surjam ainda outros de boca redonda. As dimensões do instrumento diferem pouco de caso para caso, não excedendo os 52 cm de comprimento total num exemplar comum. A altura da caixa é o elemento menos constante - com 5 cm na generalidade dos casos -, embora apareçam com frequência cavaquinhos muito baixos, que têm um som mais gritante (os machinhos de terras do Basto e Minho). As madeiras variam conforme a qualidade do instrumento. Os melhores tampos são em pinho de Flandres - embora mais correntemente também se fabriquem em tília ou choupo -, as ilhargas e o fundo são em tília, nogueira ou cerejeira. Surgem ainda alguns exemplares com a metade superior do tampo, as ilhargas e o fundo fabricados em pau-preto. Braço, cabeça ou cravelhal são de amieiro, bastante recortados segundo moldes variados e característicos. Os rebordos e boca do cavaquinho são sempre decorados com frisos e os cavaletes são quase sempre em pau-preto, tal como o indica o Regimento para o ofício de violeiro para as violas (Guimarães, 1719).
Os cavaquinhos minhotos são construídos por uma indústria outrora centralizada sobretudo nas áreas de Guimarães e Braga, actualmente extensiva à cidade do Porto e arredores de Braga. Quanto a Guimarães, já no século XVII ali se construíam estes instrumentos; mencionando-se os machinhos de quatro e de cinco cordas, por entre as espécies então fabricadas, no Regimento atrás citado.

Origem

A origem do cavaquinho é duvidosa. Gonçalo Sampaio, que explica a sobrevivência de modos arcaicos e helénicos na música minhota à luz de possíveis influências gregas (ou ligures) exercidas sobre os primitivos calaicos daquela Província, acentua a relação existente entre o cavaquinho e os tetracórdios e sistemas helénicos, sendo de opinião que ele, a par da viola, terá eventualmente vindo para Braga por intermédio dos biscaínhos. De facto, existe em Espanha um instrumento semelhante ao cavaquinho, da família das guitarras - o requinto - de quatro cordas, braço raso com o tampo e dez trastos, que afina do grave para o agudo (ré-lá-dó sustenido-mi). Jorge Dias parece também considerá-lo vindo de Espanha, onde também se encontra em termos idênticos a guitarra, guitarrón ou guitarrico, como o chitarrino italiano. E acrescenta ainda: « sem poder precisar a data da sua introdução, temos que reconhecer que o cavaquinho encontrou no Minho um acolhimento invulgar, como consequência da predisposição do temperamento musical do povo pelas canções vivas e alegres e pelas danças movimentadas ... O cavaquinho, como instrumento de ritmo e harmonia, com o seu tom vibrante e saltitante é, como poucos, próprio para acompanhar viras, chulas, malhões, canas-verdes, verdegares, prins».